O FNB organizou, recentemente, um evento alusivo ao Mês da Mulher Moçambicana, que juntou clientes e colaboradoras do Banco para um diálogo inspirador sob o tema “De Mulheres para Mulheres — Empreender e Liderar”. O painel de convidadas constituído por três mulheres e moderado pela Directora de Marketing e comunicação do FNB, Cláudia Chirindza, partilhou histórias de sucesso e desafios no universo das carreiras profissionais e de negócios femininos, exaltando as conquistas e a tenacidade de três mulheres de sucesso.
Custódia Mandlhate, primeira médica moçambicana especializada em Psiquiatria e Psicoterapia, actualmente reformada, partilhou a sua visão sobre a igualdade de género na educação, herança de uma educação paternal progressista. Recordou a sua infância num distrito onde a educação formal terminava na quarta classe e como a decisão do seu pai de a enviar para a província de Nampula foi crucial para a continuação dos seus estudos.
A influência do seu pai foi decisiva não só na escolha educativa, mas também profissional, quando desaconselhou a faculdade de direito devido ao contexto político. “Eu, antes de escolher a Medicina, na verdade, queria Direito. Mas foi no tempo colonial e o meu pai desaconselhou-me porque naquele tempo havia uma conotação política com a faculdade”, recordou.
Neuza de Matos, é empreendedora e foi durante mais de 30 anos, colaboradora no governo de Moçambique, tendo se destacado como assessora jurídica de dois Presidentes da República de Moçambique e Directora do Gabinete do Primeiro-ministro. Esta fase da sua vida foi marcada por intensos desafios, equilibrando uma carreira profissional exigente com a vida familiar.
“É uma carreira cheia de desafios: ser mãe, mulher, funcionária pública, aconselhar grandes figuras do Estado, sem hora para trabalhar e onde é preciso dedicar-se 100%, com filhos e casa para cuidar”.
Por sua vez, Jeckcy Bonzo, empreendedora e influenciadora digital, partilhou as vicissitudes do seu percurso desde a conclusão do curso de direito até à sua afirmação no empreendedorismo. Confrontada com o desafio de terminar um curso superior e não encontrar uma oportunidade de emprego, sem ter uma direcção clara, transformou a adversidade em oportunidade, encontrando no empreendedorismo a sua vocação.
Ainda sobre a discussão em torno dos desafios e conquistas femininas, Custódia Mandlhate abordou também a temática do assédio no ambiente de trabalho, destacando a necessidade de uma postura firme e a implementação de normas éticas rigorosas para a protecção das mulheres.
“O que tem que acontecer nos locais de trabalho é haver normas éticas que devem ser respeitadas, sobre a forma de trabalhar e manter o local de trabalho, um local seguro para todos” explicou, reforçando que a prevenção do assédio passa por uma gestão eficaz, pela denúncia dos casos, mas, também, na urgência de mudanças culturais que fortaleçam o respeito e a segurança no ambiente profissional.
Jeckcy, reflectiu sobre a percepção errónea de que o empreendedorismo é um caminho fácil e desprovido de obstáculos, uma ideia “muitas vezes romantizada que não corresponde à realidade” dos desafios diários enfrentados pelas empreendedoras.
Jeckcy deixou, ainda, um conselho a todas as mulheres que pretendem lançar-se no mundo dos negócios: “identifiquem a vossa paixão e pensem em como transformá-la num negócio, façam algo que vos mantenham vivas, isso é suficiente para manter o ânimo.”
A sua história é um testemunho poderoso de como o empreendedorismo, embora compensador, exige resiliência e capacidade de superação de estereótipos e expectativas.
Neuza, por sua vez, reflectiu sobre a transição entre a sua carreira no aparelho do Estado para a de empreendedora, “Saí de um mundo de poder e fui para um mundo de negócio focado em mulheres, mas foi uma transição e não uma quebra. Foi necessário encarar e assumir o desafio, pois acredito que todas temos de encontrar o nosso papel na sociedade”. A sua intervenção chamou atenção para a importância de fomentar uma cultura de empatia e colaboração entre mulheres, essenciais para o desenvolvimento de um ambiente empresarial mais inclusivo e equitativo.
Finalmente, Custódia Mandlhate voltou a intervir para discutir a preparação para a reforma como um processo que se inicia nos primeiros anos de educação e se estende ao longo da vida.
“Preparar a reforma, na verdade, começa desde que iniciamos o ensino primário”, afiançou, sublinhando como uma “gestão financeira prudente e um planeamento a longo prazo são cruciais para garantir um envelhecimento digno e seguro”. Esta perspectiva não apenas encerra a discussão sobre os desafios específicos enfrentados pelas mulheres, mas também realça a necessidade de uma visão estratégica sobre a vida profissional e pessoal.
O evento do FNB não só celebrou as realizações das mulheres moçambicanas, mas também proporcionou uma plataforma para um diálogo franco sobre os desafios persistentes, promovendo uma reflexão sobre como os superar colectivamente e avançar em direcção a uma sociedade mais justa e igualitária.
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